"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Por que não encontro Jesus? Onde Ele está que não me responde?

Muitas vezes, para não dizer quase sempre, Jesus parece estar distante, oculto, inacessível. Quantas vezes rezamos e pedimos auxílio, mas temos a impressão de que Deus não nos escuta, não nos responde, não nos vê. Onde está Ele? Onde posso encontrá-lo?

O Santo Padre Bento XVI ensinou que Jesus propõe a estrada da sabedoria do Evangelho, que não é uma doutrina a se aprender ou uma proposta ética, mas uma Pessoa: Ele mesmo, o Filho Unigênito em perfeita comunhão com o Pai (1).

Não quero aqui encontrar qualquer solução "teológica". Mas, ao que me parece, não encontramos Jesus, às mais das vezes, porque não temos as disposições interiores necessárias para tal. Queremos que Deus seja acessível aos nossos sentidos, que seja visível, palpável, sensível de alguma forma. Esquecemos assim que Ele é o Todo-Poderoso, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis (2) e, pior ainda, fazemos uma idéia grande de nós mesmos, a ponto de nos julgarmos capazes de ver a Deus. Jesus mesmo, no hino de júbilo, diz: Pai, eu te louvo porque escondestes essas coisas aos sábios e inteligentes as e revelastes aos pequeninos (cf. Lc 10:21). E, em outro lugar: Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11:30).

Ora, devemos abandonar nossa presunção, nossas idéias de grandeza e nos fazermos pequenos para não corrermos o risco de não ver a Deus quando Ele se manifesta bem pertinho de todos nós, diariamente. Somente se formos como uma criança (cf. Mc 10:15) poderemos encontrá-Lo realmente. 




Se é verdade que a fé vem pelos ouvidos (cf. Rm 10:17), deveria nos bastar ouvir a proclamação de certas passagens dos Evangelhos para termos a indicação precisa de onde está Cristo. Por exemplo: Eu sou o pão vivo que desceu do Céu (cf. Jo 6:35). Se, ao olharmos para o Pão Eucarístico, não vemos Jesus é porque estamos com o coração duro, queremos “ver com os olhos do corpo”, isto é, com o sentido da visão, esquecemos que precisamos ser mansos e humildes de coração e que nos deve bastar a Palavra, porque nada é mais verdadeiro do que esta Palavra de Verdade (3).

Em toda a história, Deus sempre esteve escondido. Ele nasceu na gruta em Belém, sob os cuidados de José e Maria, porque “não havia lugar para eles” (cf. Lc 2:7). Quem poderia reconhecer Deus naquela criança que nascia? Não bastaram as palavras dos profetas. Era preciso mais. O homem, na sua soberba entorpecente, quer que Deus seja perceptível aos seus sentidos. No fundo, pensamos num Deus pequeno, que chega mesmo a ser menor do que nós. Esquecemos da Grandeza de Deus e de como ele transcende as nossas capacidades e potências humanas! O único meio de perceber a presença de Deus é, como já dissemos, a humildade, a pobreza de espírito. Os puros de coração são felizes porque verão a Deus (cf. Mt 5:8). Mais ainda, Jesus, o Verbo Encarnado, o Deus vivo habitando entre nós, foi rejeitado em sua cidade natal, foi perseguido e humilhado, morto numa Cruz. Quantos homens O viram em todas as fases de Sua vida e não O reconheceram? Quantos passaram ao Seu lado, quantos O tocaram, quantos cuspiram Nele, quantos O vaiaram e ridicularizaram, quantos O ouviram pregar, quantos O viram crescer e quantos O viram ser erguido às alturas no Seu trono, a Cruz, sem O reconhecerem?!

Se ele diz: tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos foi a Mim que o fizestes (cf. Mt 25:40) ou ainda tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber (cf. Mt 25:35), por que duvidamos que O podemos encontrar de fato nos pobres, nos necessitados e desvalidos?

Irmãos, os pobres, os pequeninos e também a Eucaristia são como que “parábolas de Deus”. São as imagens visíveis de um Deus invisível. São a forma sensível de um Deus que está além do alcance de nossos sentidos. São a parte frágil que devemos cuidar do Deus forte que cuida de nós.

Nesse advento, fica aqui o convite a todos. Vamos nos fazer pequenos para assim podermos ver o Deus que é grande. Vamos esquecer nossa grandeza que quer ver e dialogar com um Deus pequeno. 


Talvez se aplique aqui o que disse o apóstolo: quando me sinto fraco, então é que sou forte (cf. 2 Cor 12:10). E em outro lugar: nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá separar do amor de Deus (cf. Rm 8:38,39). E ainda aqui: o que agora vemos por espelho, então veremos face a face (1Cor 13:12).

Se quiser ouvir a voz de Deus, peça que o pobre fale. Se quiser sentir o gosto de Deus, se confesse e participe da Sagrada Comunhão. Se quiser adorar a Deus, se prostre diante da Eucaristia. Se quiser cuidar de Deus, como cuidaram Maria e José, exercite a caridade. Se quiser um conselho de Deus, peça a um mendigo que te dê, e ele dará a orientação segura.

Amém.

(1) Catequese do Papa, 07 de dezembro de 2011

(2) Fórmula do Credo niceno-constantinopolitano

(3) Santo Tomás de Aquino, Adoro Te Devote

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