"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A medicina preventiva das almas

Ultimamente têm-se dado especial destaque à medicina preventiva, inclusive com alterações polêmicas no quadro de disciplinas da graduação de Medicina. Em nossos dias, a Saúde Coletiva (ou Medicina Social) ocupa 25% da carga-horária. Estas matérias têm, entre outras finalidades, a de preparar o médico para atuar na prevenção, ou seja, antes que a doença seja contraída. Também nesse caminho seguem todas as outras disciplinas. Vivenciamos um novo movimento curricular nos cursos de graduação médica, que pretende tornar a medicina preventiva cada vez mais importante em comparação com a chamada medicina curativa, que é a tradicional, aquela em que o médico prescreve um tratamento para uma doença já instalada.


Fico pensando: por que não se podem aplicar esses princípios também para as almas? Sim, enquanto vivemos neste mundo, estamos sujeitos a um sem-número de intercorrências espirituais que podem desviar a alma de seu fim último, isto é, a salvação. Se a doença causa prejuízos ao corpo, o pecado causa prejuízos à alma. Se o prejuízo ao corpo, que é um prejuízo temporal, deve ser evitado a todo custo - assim dizem mesmo as autoridades médicas - quanto mais o prejuízo à alma, que gera conseqüências eternas.


Para a alma que vive neste Desterro, as situações próximas de pecado devem ser a todo custo evitadas, as coisas materiais devem ser ordenadas para favorecer a salvação e a oração deve ser multiplicada a fim de fortalecer a alma contra os dados inflamados do maligno, como diz São Paulo, na carta aos Efésios. Muitos objetam, porém, que isso não se pode fazer pois que somente ao custo de muito sofrimento se consegue evitar certos pecados, particularmente a gula e os pecados contra a castidade. Todavia, se o médico lhes diz que, a fim de evitar a hipertensão arterial, devem abster-se de sal ou para evitar as complicações do diabetes, devem diminuir a ingestão de açúcar, tomam logo as providências para cumprir as metas, embora nem sempre se consiga isso, como sabemos.


Também no caso de campanhas de vacinação em massa, as mães se ocupam de levar as crianças o mais rápido possível porque querem assegurar a prevenção de certas doenças infecciosas, e ainda, as mulheres fazem filas em frente aos postos de saúde para a mamografia e o exame preventivo contra o câncer de colo de útero todos os anos (na idade em que há indicação médica para isso). As pessoas aplicam toda a diligência nesses cuidados de saúde, cuidados preventivos. Sem falar da prática de atividades físicas que atualmente é encarada como uma arma indispensável na prevenção de enfermidades as mais diversas possíveis. Mesmo quem não cumpre as determinações médicas de prevenção, se perguntado, dirá que gostaria de cumprir, embora não tenha ânimo para tanto.


Mas e quanto a evitar o pecado? Por que as pessoas - todos nós - não cuidamos da nossa alma com o mesmo zelo que dedicamos aos nossos corpos? Ou, melhor ainda, porque não fazemos medicina preventiva com relação ao que de mais sagrado temos, ou seja, a Eternidade?


Vejo que nos maços de cigarros, por exemplo, por determinação do Governo, foram colocadas fotografias que mostram desde uma boca com os dentes apodrecidos até um pulmão canceroso. Vendo as fotos, o cidadão pode mais facilmente evitar o fumo e, assim, proteger-se de alguma maneira contra certas moléstias. Mas e o inferno? Não será muito mais assustador do que um câncer de pulmão? Todos nós, penso eu, merecemos uma campanha continuada de conscientização sobre o pecado e as suas conseqüências para a alma. Se pudermos recordar sempre do que nos falou Jesus, do que nos contaram os santos e do que ensina a Igreja sobre o inferno sem dúvida que poderemos ter mais êxito na luta contra o pecado. Se é lícitoútil fazer isso contra o câncer, por que não seria útil fazer contra a perdição eterna, que é muito mais grave?


Há ainda outros modos usados. Se vemos as conseqüências negativas do cigarro, etc., também vemos, por exemplo, propagandas ou campanhas que mostram idosos "bem-conservados", fortes e sadios, mesmo aos noventa ou cem anos até. Perguntados sobre o segredo de manter a boa-forma, eles logo falam sobre a boa alimentação, a leitura, o combate aos vícios, a prática de esportes. Ora, de igual modo, devemos meditar sobre o Céu. Pensar em todos os benefícios que nossa alma terá quando lá chegar, a visão beatífica de Deus, a presença de todos os santos, dos apóstolos, de Nossa Senhora, a felicidade incomparável e sem fim. Se é útil lembrar da felicidade que se pode ter na velhice mantendo bons cuidados para com o corpo, também o é lembrar do Céu onde se pode ter gozo sem igual.


Enfim... acho que devemos nos conscientizar sobre os males da alma e também os bens eternos para que, lembrando e meditando continuamente sobre eles, nos apliquemos com todo o empenho no combate às paixões desordenadas, aos vícios do espírito, às más-inclinações. Se abster-se de pecados, fazer penitências ou rezar podem nos causar sofrimento, pensemos na recompensa que teremos e no mal que evitaremos e ficará claro que vale a pena o esforço. Além disso, se alguém disser que não quer fazer esforço porque "Deus nos quer felizes agora" então, faço uma sugestão: coma gordura de carne todos os dias, fume pelo menos um maço de cigarro por dia, capriche no sal nos seus alimentos, não faça exercícios físicos que te sejam forçados e desagradáveis (porque há também esportes que nos causam prazer, evidentemente) e, se for mulher, não faça mais mamografias ou exames preventivos quaisquer. Assim você estará sendo coerente. Cuidar do corpo e esquecer da alma não é coerente. Apliquem-se as mesmas diligências ao corpo e à alma pois que o ser humano integral é formado de corpo e alma unidos e inseparáveis a não ser pela morte temporal.


Nesse advento, vamos aproveitar também para meditar sobre o que estamos fazendo para prevenir a perda da saúde da alma, com a conseqüente separação do amor de Cristo. Vamos reforçar os exames de consciência, intensificar nossas orações e súplicas e fazer de nossa vida uma oblação enquanto nos preparamos para o Natal e para a vinda definitiva de Nosso Senhor, pedindo com a vida e com a boca: "Adveniat regnum tuum".

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