"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

domingo, 13 de novembro de 2011

Sobre trabalho voluntário

Discurso do Santo Padre Bento XVI aos voluntários católicos europeus em encontro promovido pelo Pontifício Conselho Cor Unum, em 11/11/2011 (tradução não-oficial).
Saudações (...)

Sou grato pela oportunidade de saudar-vos enquanto vos encontreis sob os auspícios do Pontifício Conselho Cor Unum, neste Ano Europeu do Voluntariado.

Desejo começar agradecendo ao Cardeal Robert Sarah pelas cordiais palavras que me dirigiu em vosso nome. Desejo ainda exprimir profunda gratidão a vós e, então, aos milhões de voluntários católicos que contribuem, com regularidade e generosidade, à missão caritativa da Igreja no mundo. No momento atual, caracterizado pela crise e incerteza, o vosso empenho é motivo de confiança porque mostra que a bondade existe e que está crescendo em meio a nós. A fé de todos os católicos vem certamente reforçada pelo ver o bem que é feito em nome de Cristo (cfr. Fm, 6)

Para os cristãos, o voluntariado não é somente expressão de boa vontade. É baseado sobre a experiência pessoal de Cristo. Foi o primeiro a servir à humanidade, dando livremente sua vida para o bem de todos. Aquele dom não se baseava sobre nossos méritos. Disto aprendemos que Deus doa-se a sim mesmo para nós. Ainda: Deus caritas est – Deus é amor – para citar uma frase da Primeira Carta de João (4, 8) que escolhi como título da minha primeira Encíclica. A experiência do amor generoso de Deus nos desafia e nos libera para adotar a mesma atitude com relação aos nossos irmãos e nossas irmãs: “Gratuitamente haveis recebido, gratuitamente dais” (Mt 10, 8). O experimentamos em particular na Eucaristia, quando o Filho de Deus, na fração do pão, une a dimensão vertical do seu dom divino com aquela horizontal do nosso serviço aos irmãos e irmãs.

A graça de Cristo nos ajuda a descobrir em nós mesmos um desejo humano de solidariedade e uma fundamental vocação ao amor. A sua graça aperfeiçoa, reforça e eleva aquela vocação e nos consente de servir aos outros sem recompensa, sem satisfação ou alguma compensação. Aqui vemos qualquer coisa da grandeza da vocação humana a servir aos outros com a mesma liberdade e generosidade que caracterizam Deus mesmo. Nos tornamos também instrumentos visíveis do seu amor em um mundo que agora anela profundamente àquele amor em meio à pobreza, à solidão, à marginalização e à ignorância que vemos em torno a nós.

Por certo, o trabalho dos voluntários católicos não pode responder a todas estas necessidades, mas isto não nos desencoraja. Não devemos deixar-nos seduzir por ideologias que querem mudar o mundo segundo uma visão puramente humana. O pouco que podemos fazer para aliviar as necessidades humanas pode ser considerado como a boa semente que germinará e dará muitos frutos. É um sinal da presença e do amor de Cristo que, como a árvore do Evangelho, cresce para dar abrigo, proteção e força a todos aqueles que precisam. 

É esta a natureza do testemunho que vós, em toda humildade e convicção, ofereceis à sociedade civil. Embora seja dever das autoridades públicas reconhecer e apreçar esta contribuição sem distorcê-la, o vosso papel de cristãos consiste em tomar ativamente parte na vida da sociedade, procurando torná-la sempre mais humana, sempre mais caracterizada pela liberdade, justiça e solidariedade autênticas.

Nosso encontro de hoje se desenvolve na memória litúrgica de São Martinho de Tours. Freqüentemente retratado enquanto divide a própria manta com um pobre, Martinho tornou-se modelo de caridade em toda a Europa e, de fato, no mundo inteiro. Hoje, o trabalho do voluntariado como serviço de caridade se torna um elemento universalmente reconhecido da nossa cultura moderna. Não obstante, suas origens, são ainda visíveis na particular solicitude cristã para a tutela, sem discriminações, da dignidade da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus. Se estas raízes espirituais são negadas ou obscurecidas e os critérios na nossa colaboração se tornam meramente utilitaristas, aquilo que há de mais característico no serviço que oferecemos corre o risco de se perder, em detrimento da sociedade nos seus interesses.

Caros amigos, desejo concluir encorajando os jovens a descobrir no trabalho voluntário um modo para fazer crescer o próprio amor de oblação que dá à vida o seu significado mais profundo. Os jovens reagem prontamente à vocação do amor. Ajudemo-los a escutar Cristo que faz ouvir a sua chamada nos seus corações e lhes atraem a si. Não devemos ter medo de apresentar a eles uma confiança radical que muda a vida, ajudando-lhes a compreender que os nossos corações são feitos para amar e para ser amados. É no dom de si que vivemos a vida em toda sua plenitude.

Com estes sentimentos, renovo a minha gratidão a todos vós e todos aqueles que representais. Peço a Deus que vele sobre vossas numerosas obras de serviço e as tornem sempre mais fecundas espiritualmente para o bem da Igreja de todo o mundo. A vós e aos vossos voluntários concedo de bom grado a minha Bênção Apostólica. 

© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

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