"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Viver para mim é Cristo - Parte 1


Comecei a refletir e a escrever o que se segue durante a Residência Médica, no primeiro semestre deste ano. Todavia, o que escrevi permanece válido para mim hoje e espero que, um dia, com a luz do Espírito Santo e se for para a maior glória de Deus, eu consiga completar o percurso iniciado nessa linha de raciocínio. Paz e Bem da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Na realidade, o que me motiva a refletir é a inquietação de minha alma e a escrever é o desejo de partilhar as conclusões a que pretendo chegar, com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tenho dificuldade mesmo de cuidar das coisas temporais, da vida temporal em todos os seus aspectos, incluindo a saúde, o bem-estar e todo o resto quando sei que a morte temporal é na verdade o portal para a Felicidade Eterna. Eu preferia mesmo não pensar nisso porque muitas vezes me sinto privado de muitas emoções positivas por causa deste assunto para mim tão espinhoso. Espinhoso na medida em que causa incomoda minha alma como faz um espinho encravado na sola do pé.


Porém, na minha profissão de médico, sou chamado sempre a ajudar as pessoas a suportar seus sofrimentos e, mais ainda, defender a vida temporal com o máximo de zelo e dedicação. Não somente isso, emprego muito tempo para o estudo das ciências médicas e este aperfeiçoamento é necessário exatamente para melhor atender aos que me chamam. Mas que mérito eu posso ter ao trabalhar para que alguém tenha vida temporal por mais tempo? Que benefício real consegue alguma alma ao prolongar a sua vida temporal? Fico procurando respostas definitivas e convincentes a estas perguntas e a falta delas atrapalham meu dia-a-dia. Como posso perder tanto tempo na defesa da vida temporal? Me dedicar ao que é perecível com tanto empenho não me afasta do que é imperecível? 

Quero reunir então, nas próximas páginas (as que pretendo escrever ao longo de toda a vida), o fruto de meu esforço mental para chegar a essas respostas que servirão para trazer paz à minha alma e, quiçá, de alguns dos que resolverem ler o que escrevo. Para isto, quero pedir a proteção de Nossa Senhora e de seu castíssimo esposo São José, para que me acompanhem nesta caminhada em direção à Paz e a Felicidade, ao Sumo Bem.

O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. O mundo inteiro foi criado antes para depois ser entregue à administração de Adão, primeiro homem, obra-prima do Criador. Adão viveu no paraíso, dispondo e usufruindo gratuitamente de todas as maravilhas da natureza para o seu proveito e mantendo relação próxima e pessoal com o Deus onipotente. É com esta visão em minha mente, a visão do homem que primeiro habitou neste mundo que consigo ter noção da vocação natural do homem para a eternidade.

O homem, de fato, não é Deus. Adão não era Deus. Mas ele era a imagem e semelhança de Deus! Toda a sua “glória” era proveniente do “refletir” a imagem de Deus, que o havia Criado, que o havia gerado... Mas, por intervenção de um misterioso poder maligno, Adão e Eva, sua companheira, caíram em pecado e foram separados da amizade com Deus. Eles perderam sua “condição divina”, sua imortalidade, sua glória justamente por conseqüência do pecado original.

Por um lado, toda a humanidade que descendeu de Adão trouxe em si mesma esta culpa e carrega esta conseqüência: a da separação entre o imortal e o mortal, do eterno e do temporal. Mas, também, a responsabilidade de cuidar da criação, o amor e o zelo pelo mundo criado por Deus, isto tudo permaneceu na natureza humana de cada homem. Então, na verdade, o ser humano integral é uma complicada somatória entre como que “duas forças” que possui: uma derivada da graça de Deus, que por si mesma atrai ao plano original do Criador, atrai para a beatitude, a vida plena e eterna; a outra derivada da desgraça do homem, do pecado original, da queda na tentação do maligno, do desejo de deixar de ser apenas um reflexo da glória de Deus para, através da sabedoria, chegar a ser Deus mesmo.

A história da humanidade então caminhou por vales de sombras até que Deus, em sua infinita misericórdia, decidiu fazer-se um de nós, enviando seu único Filho, Jesus, para sacrificar-se com amor incondicional e abrir de novo as portas para a eternidade, desamarrar o nó que nos prendia à morte. Jesus Cristo deu-nos vida por sua morte.

Se a perfeição para Adão era ser reflexo da imagem de Deus, para nós a perfeição não pode ser outra coisa além de refletir a imagem de Cristo, tornando-nos uma só coisa com Ele em seu Corpo Místico que é a Igreja.

Desta pequena historinha, contada de modo muitíssimo resumido e didático, pretendo evoluir uma seqüência de raciocínios, escritos pouco a pouco, na medida em que meu coração desejar e conforme o Espírito Santo me iluminar. Se esta luz Divina não me ajudar, não terei motivos para escrever e, na verdade, nem mesmo serei capaz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário