"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Bento XVI aos novos evangelizadores

Trechos das alocuções do Santo Padre Bento XVI aos membros do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, reunidos em Roma no fim de semana passado próximo.

"O mundo de hoje precisa de pessoas que anunciem e testemunhem que é Cristo a ensinar-nos a arte de viver, a estrada da verdadeira felicidade, porque é Ele mesmo a estrada da vida; pessoas que tenham antes de tudo elas mesmas o olhar fixo em Jesus, o Filho de Deus: a palavra do anúncio deve ser sempre imersa em um relacionamento intenso com Ele, em uma intensa vida de oração. O mundo de hoje precisa de pessoas que falem com Deus, para poderem falar de Deus. E devemos também recordar sempre que Jesus não redimiu o mundo com belas palavras ou meios vistosos, mas com o seu sofrimento e com a sua morte. A lei do grão de trigo que morre na terra vale também hoje; não podemos dar a vida a outros sem dar a nossa vida: "quem perder a sua vida por mim e pela causa do Evangelho, a salvará", diz-nos o Senhor (Mc 8,35)".


E na homilia deste domingo:


"Nos deteremos agora sobre o trecho do Evangelho. Se trata do texto sobre legitimidade do tributo que deve ser pago a César, que contém a célebre resposta de Jesus: “Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Mas, antes de chegar a este ponto, existe uma passagem que pode ser referida a todos que têm a missão de evangelizar. De fato, os interlocutores de Jesus, discipulos dos fariseus e herodianos se voltam a Jesus com uma certa consideração dizendo: “Sabemos que dizes a verdade e ensinais o caminho de Deus segundo a verdade, sem te preocupares com ninguém". È exatamente esta afirmação, que neste caso, é movida pela hipocrisia, que deve atrair nossa atenção. Os discípulos dos fariseus e os herodianos não accreditam naquilo que dizem. O afirmam somente como uma captatio benevolentiae para serem ouvidos, mas o coração deles está bem longe daquela verdade, e mais, eles querem jogar Jesus em uma armadilha para poderem acusá-lo. Para nós, ao contrário, aquela expressão de Jesus é preciosa e verdadeira: Jesus, de fato, é verdadeiro e ensina o caminho de Deus segundo a verdade sem preocupar-se com ninguém. Ele mesmo é este “caminho de Deus”, que nós somos chamados a percorrer. Podemos citar aqui as palavras do mesmo Jesus, no Evangelho de João: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. È iluminante, a propósito, o comentário de Santo Agostinho: “Era necessário que Jesus dissesse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, porque, uma vez conhecido o caminho, faltava conhecer a meta. O caminho conduz à verdade, conduz à vida. E nós, onde vamos, senão com Ele? E por qual via caminharemos, se não através dEle?".

Os novos evangelizadores são chamados a caminhar por primeiro neste Caminho que é Cristo, para levar os outros a conhecer a beleza do Evangelho que dá a vida. E sobre este Caminho não se caminha nunca sozinho, mas em companhia: uma experiência de comunhão e de fraternidade que vem ofertada a quantos encontramos, para que eles participem da nossa experiência com Cristo e com a sua Igreja. Assim, o testemunho unido ao anúncio pode abrir o coração de vários que estão à procura da verdade, a fim que possam atingir o sentido da própria vida.

Uma breve reflexão também, sobre a questão central do tributo a César. Jesus responde com um surpreendente realismo político, ligado com o teocentrismo da tradição profética. O tributo a César deve ser pago porque a imagem sobre a moeda é a sua; mas o homem, cada homem, leva consigo uma outra imagem, aquela de Deus, e portanto é a Ele, e somente a Ele, que cada um é devedor da própria existência. Os Padres da Igreja, pegando o gancho do fato que Jesus faz referência à imagem do imperador impressa na moeda do tributo, interpretaram este passo à luz do conceito fundamental do homem imagem de Deus, contido no primeiro capítulo do Livro do Gênesis. Um autor anônimo escreve: “ A imagem de Deus não está impressa sobre o ouro, mas sobre o gênero humano. A moeda de César é de ouro, a de Deus é a humanidade. Portanto dê a tua riqueza material a César, mas reserves para a Deus a inocência única da tua consciência, onde Deus é contemplado. César, de fato, pediu a sua imagem sobre todas as moedas, ma Deus escolheu o homem, que Ele criou para refletir a sua glória”. E Santo Agostinho utilizou mais vezes esta referência nas suas homilias: “Se César pede a própria imagem impressa sobre a moeda, afirma, não exigirá Deus do homem a imagem divina esculpida por Ele?”. E ainda: “Como se restitui a César a moeda, assim se restitui a Deus a alma iluminada e impressa da luz da sua face. Cristo, de fato, habita no homem interior”.

Esta palavra de Jesus é rica de conteúdo antropológico, e não se pode reduzí-la somente no âmbito político. A Igreja, portanto, não se limita a recordar aos homens a justa distinção entre a esfera da autoridade de César e a de Deus, entre o âmbito político e o religioso. A missão da Igreja, como a de Cristo, é essencialmente falar de Deus, fazer memória da sua soberania, chamar a todos, especialmente os cristãos que rejeitaram a própria identidade, o direito de Deus sobre aquilo que lhe pertence, isto é a nossa vida"

O Papa Bento XVI anunciou ainda um "Ano da Fé", com início em outubro de 2012, na comemoração dos cinquenta anos de abertura do Concílio Vaticano II.

O texto da Carta Apostólica "Porta Fidei" em que o Santo Padre justifica a convocação do "Ano da Fé" você pode ler clicando aqui. Leitura altamente recomendável.

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