"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bento XVI: A legislação civil deve proteger o ser humano e combater a discriminação sexual das mulheres

Enquanto ainda trabalho na parte II da Intercessão dos Santos, sobre o que prometi fazer um estudo pormenorizado, publico alguns textos que leio e recomendo para todos. Nessa semana, o Santo Padre Bento XVI recebeu em audiência o novo embaixador alemão junto à Santa Sé. O discurso é, para variar, muito interessante. Boa leitura!



DISCURSO DO SANTO PADRE (tradução e destaques nossos)

É para mim uma alegria dar-lhe as boas vindas por ocasião da entrega das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Federal da Alemanha junto à Santa Sé. Lhe agradeço pelas cordiais palavras e lhe peço, Excelência, para transmitir ao Presidente Federal, ao Chanceler Federal e aos membros do Governo Federal o meu sincero agradecimento. Ao mesmo tempo, asseguro a todos os meus conterrâneos alemães o meu profundo afeto e a minha benevolência. Temos ainda diante dos olhos, vivias, as imagens felizes da minha viagem à Alemanha, em setembro próximo passado. As múltiplas demonstrações de simpatia e estima que me foram reservadas nas várias etapas da minha visita, em Berlim, Erfurt, Etzelbach e Friburgo, superaram largamente as expectativas. Em toda parte pude ver como as pessoas aspiram à verdade. Nós cristãos devemos dar testemunha da verdade, para dar a ela uma forma na vida pessoal, familiar e social.

A visita oficial de um Papa à Alemanha pode ser ocasião para refletir sobre quais serviços a Igreja católica e a Santa Sé podem oferecer em sociedade pluralística, como é a da nossa Pátria. Muitos contemporâneos pensam que a influência do Cristianismo como também de outras religiões consista em plasmar uma determinada cultura e um determinado estilo de vida na sociedade. Um grupo de crentes marca, através do próprio comportamento, certas formas de vida social, que acabam sendo adotadas por outras pessoas, imprimindo assim um caráter específico à sociedade. Esta idéia não é errada, mas não exaure a visão que a Igreja católica tem de si mesma.

Sem dúvida, a Igreja é também uma comunidade cultural e influencia deste modo a sociedade na qual está presente. Todavia, essa é convicta de não ter somente criado aspectos culturais comuns em diversas formas nos vários Países, e de ter sido, por seu turno, plasmada das suas tradições.
A Igreja católica é, além disso, ciente de conhecer, através da sua fé, a verdade sobre o homem e então de ter o dever de intervir em favor dos valores que são válidos para o homem enquanto tal, independentemente das várias culturas. Essa distingue entre a especificidade da sua fé e as verdades da razão, às quais a fé abre os olhos e às quais o homem enquanto homem pode alcançar mesmo prescindindo desta fé. 


Felizmente, um patrocínio fundamental de todos os valores humanos universais se tornou direito positivo na nossa Constituição de 1949 e nas declarações sobre direitos do homem depois da Segunda Guerra Mundial, porque as pessoas, depois dos horrores da ditadura, reconheceram a sua validade universal, que se baseia sobre a sua verdade antropológica e os traduziram no direito vigente. Hoje, se discute de novo os valores fundamentais do ser humano, nos quais se trata da dignidade do homem enquanto tal. Aqui, a Igreja, ultrapassando o âmbito da sua fé, considera seu dever defender, na totalidade da nossa sociedade, a verdade e os valores, nos quais está em jogo a dignidade do homem enquanto tal. Então, para citar um ponto particularmente importante, não temos direito de julgar se um indivíduo é "já uma pessoa", ou "ainda uma pessoa", e menos ainda nos cabe manipular o homem e querer, por assim dizer, fazê-lo. Uma sociedade é verdadeiramente humana somente quando protege sem reservas e respeita a dignidade de todas as pessoas desde a concepção até o momento da sua morte natural. Todavia, se decidisse descartar os seus membros mais necessitados de tutela, excluir  homens de serem homens, se comportaria de modo profundamente inumano e também de modo não verdadeiro em relação à igualdade - evidente para todas as pessoas de boa vontade - da dignidade de todas as pessoas, em todos os estágios de vida. Se a Santa Sé intervém no campo legislativo em mérito às questões fundamentais da dignidade humana, que surgem hoje em numerosos âmbitos da existência pré-natal do homem, não o faz para impor a fé aos outros de modo indireto, mas para defender valores que para todos são fundamentalmente inteligíveis como verdade da existência, mesmo se interesses de outra natureza tentam ofuscar de todo jeito esta consideração.

Neste ponto, gostaria de afrontar um outro aspecto preocupante que, ao que parece, se espalha através de tendências materialistas e hedonistas sobretudo nos países do assim chamado mundo ocidental, que é a discriminação sexual das mulheres.

Toda pessoa, seja homem, seja mulher, é destinada a ser para os outros. Uma relação que não respeita o fato que o homem e a mulher tem a mesma dignidade constitui um grave crime contra a humanidade. Está na hora de combater energicamente a prostituição, e também a ampla difusão de material de conteúdo erótico ou pornográfico pela Internet. A Santa Sé quer que o empenho contra estes males, da parte da Igreja católica na Alemanha, seja levado em frente de modo mais firme e claro.

Pelos tantos anos de conversas cordiais entre a República Federal da Alemanha e a Santa Sé, podemos observar globalmente muitos bons resultados. É um bem que a Igreja católica na Alemanha tenha excepcionais condições de atuar, que possa anunciar o Evangelho livremente e possa ajudar as pessoas em numerosas estruturas caritativas e sociais. Sou realmente grato pelo sustento concreto dado a esta obra da parte das Instituições federais, regionais e municipais. Entre os muitos aspectos de uma colaboração positiva e apreciável entre o Estado e a Igreja católica desejo citar por exemplo a tutela do direito eclesiástico do trabalho da parte do direito estatal, também o sustento oferecido às escolas católicas e às instituições católica de caridade, cujas obras servem, em definitivo, ao bem-estar de todos os cidadãos.

Ao senhor, querido Embaixador, desejo um bom início da sua missão e muito sucesso em tal cômpito. Ao mesmo tempo, asseguro a ajuda a disponibilidade dos representantes da Cúria Romana no desenvolvimento do seu serviço. De coração invoco para o senhor, para sua esposa e para os colaboradores e colaboradoras da Embaixada da República Federal da Alemanha junto à Santa Sé, a proteção constante de Deus e suas abundantes bênçãos.

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