"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bento XVI: "Existem dimensões do ser humano que estão além do alcance da ciência" - Sobre pesquisas com células-tronco

Discurso do Santo Padre Bento XVI durante audiência aos participantes do Congresso Internacional sobre células estaminais adultas, promovido pelo Pontifício Conselho da Cultura, em 12 de novembro de 2011

O Tema do Congresso era “Células-tronco adultas: ciência e o futuro do homem e cultura” (tradução não-oficial).


Saudações e agradecimentos (...)

Desejo exprimir o apreço da Santa Sé por todas as obras empreendidas pelas várias instituições para promover iniciativas culturais e formativas voltadas a sustentar uma pesquisa de máximo nível sobre células estaminais adultas e a estudar as implicações culturais, éticas e antropológicas do uso delas.

A pesquisa científica oferece uma oportunidade única para explorar a maravilha do universo, a complexidade da natureza e a beleza peculiar do universo, incluindo a vida humana. Todavia, visto que os seres humanos são dotados de alma imortal e são criados à imagem e semelhança de Deus, existem dimensões da existência humana que estão além daquilo que as ciências naturais são capazes de determinar.

Se estes limites são superados, se corre o grave risco que a dignidade única e a inviolabilidade da vida humana possam ser subordinadas a considerações meramente utilitaristas. Todavia, se, ao contrário, estes limites são obrigatoriamente respeitados, a ciência pode dar uma contribuição verdadeiramente notável à promoção e à tutela da dignidade do homem: e nisto está a sua utilidade autêntica.

O homem, o agente da pesquisa científica, às vezes, na sua natureza biológica, é também o objeto daquela pesquisa. Não obstante, a sua dignidade transcendente lhe dá o direito de ser sempre o beneficiário último da pesquisa científica e de não ser nunca reduzido a instrumento dela.

Neste sentido, os benefícios potenciais da pesquisa sobre células estaminais adultas são consideráveis, pois dá a possibilidade de tratar doenças degenerativas crônicas reparando o tecido danificado e restaurando a sua capacidade de regeneração. Os melhoramentos que esta terapia promete constituiriam um significativo passo adiante na ciência médica, portando renovada esperança aos enfermos e às suas famílias. Por este motivo, naturalmente a Igreja oferece o seu encorajamento a quantos são empenhados em conduzir e sustentar pesquisas deste tipo, sempre que sejam conduzidas com o devido resguardo para o bem integral da pessoa humana e o bem comum da sociedade.



Esta condição é da mais extrema importância. A mentalidade pragmática que tão freqüentemente influencia o processo de tomada de decisões no mundo de hoje é ao final sempre pronta a aprovar qualquer instrumento disponível para obter o objetivo desejado, não obstante sejam amplas as provas das conseqüências desastrosas deste modo de pensar. Quando o objetivo prefixado é tão desejável quanto à descoberta de uma cura para doenças degenerativas, é uma tentação para os cientistas e para os responsáveis pelas políticas ignorar todas as objeções éticas e prosseguir com qualquer pesquisa que parece oferecer perspectivas de sucesso. Quantos defendem a pesquisa sobre células estaminais embrionárias na esperança de alcançar tal resultado caem no grave erro de negar o direito inalienável à vida de todos os seres humanos do momento da concepção até a morte natural. A destruição mesmo de uma só vida humana não pode nunca ser justificada pelos benefícios que poderiam presumivelmente ser conseguidos para outros. Todavia, geralmente, não surgem problemas éticos quando as células estaminais são extraídas dos tecidos de um organismo adulto, do sangue do cordão umbilical no momento do nascimento ou dos fetos que morreram por causas naturais (cfr. Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Dignitas personae, n. 32).

Segue-se, então, que o diálogo entre ciência e ética é da máxima importância para garantir que os progressos médicos não sejam nunca conquistados a um preço humano inaceitável. A Igreja contribui para este diálogo ajudando a formar as consciências segundo a reta razão e à luz da verdade revelada. Assim fazendo, não procura impedir o progresso científico mas, pelo contrário, procura guiá-lo em uma direção que seja verdadeiramente fecunda e benéfica para a humanidade.

Na verdade, a Igreja é certa de que tudo aquilo que é humano, incluindo a pesquisa científica, “não é somente acolhido e respeitado pela fé, mas por essa é também purificado, elevado e aperfeiçoado” (Ibidem, n.7). Assim, a ciência pode ser ajudada a servir ao bem comum da inteira humanidade, com particular atenção aos mais débeis e vulneráveis.

Ao chamar a atenção sobre as necessidades dos indefesos, a Igreja não pensa somente nos nascituros, mas também em quantos não tem acesso fácil ao tratamento médico dispendioso. A doença não é seletiva com as pessoas e a justiça requer que seja feito todo esforço para por os frutos da pesquisa científica à disposição de todos aqueles que precisam, independentemente das suas possibilidades econômicas. Além das considerações meramente éticas, necessário se faz afrontar as questões de natureza social, econômica e política para garantir que os progressos da ciência médica andem de mãos dadas com a oferta justa e igual dos serviços sanitários. Aqui, a Igreja é capaz de oferecer assistência concreta através do seu vasto apostolado sanitário, ativo em tantos Países no mundo e voltado a uma solicitude particular para as necessidades dos pobres do mundo.

Caros amigos, concluindo as minhas observações, desejo assegurar-vos a minha lembrança especial nas orações e confio à intercessão de Maria, Salus infirmorum, todos vós que trabalham tão duramente para levar tratamento e esperança a quantos sofrem.

Rezo afim de que o vosso empenho na pesquisa sobre células estaminais adultas porte grandes benefícios para o futuro do homem e enriquecimento autêntico da cultura. A vós, às vossas famílias e aos vossos colaboradores, como também a todos os pacientes que possam se beneficiar da vossa generosa competência e dos resultados de vosso trabalho dou de bom-grado e de todo o coração a minha Bênção Apostólica. Muito obrigado!


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