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por Pensamentos e Palavras
"Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe Salvi - Bento XVI)
domingo, 23 de dezembro de 2018
quarta-feira, 9 de maio de 2018
PREFÁCIO DO PAPA FRANCISCO AO LIVRO "LIBERTAR A LIBERDADE" QUE REÚNE TEXTOS DO PAPA EMÉRITO BENTO XVI
Segue o texto do PREFÁCIO ESCRITO PELO
PAPA FRANCISCO para um livro (segundo de uma série de sete) que reúne textos do
Papa emérito Bento XVI sobre fé e política: “Libertar a liberdade. Fé e
política no terceiro milênio” (Editora Cantagalli). Será lançado dia 11 de maio
no Senado Italiano, com a presença do secretário do Papa emérito, Georg
Gänswein, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, o Bispo Dom
Giampaolo Crepaldi e a presidenta do senado italiano, Maria Elisabetta
Casellati.
O original está disponível no site VATICAN
INSIDER.
Prefácio do Papa Francisco
A relação entre
fé e política é um dos grandes temas que sempre estiveram no centro das
atenções de Joseph Ratzinger/Bento XVI e atravessa todo seu caminho intelectual
e humano: a experiência direta do totalitarismo nazista o levou, como jovem
estudioso, a refletir sobre os limites da obediência ao Estado em favor da
liberdade da obediência a Deus: “O Estado – escreve nesse sentido em um dos
textos propostos – não é a totalidade da existência humana e não abarca toda a
experiência humana. O homem e sua
esperança vão mais além da realidade do Estado e mais além da ação política.
Isto não vale só para um Estado que se chama Babilônia, mas para qualquer tipo
de Estado. O Estado não é uma totalidade. Isto alivia o peso do homem
político e lhe abre o caminho a uma política racional. O Estado romano era
falso e anticristão precisamente porque queria ser o totum das
possibilidades e das esperanças humanas. Assim pretende o que não pode; assim
falsifica e empobrece o homem. Com sua mentira totalitária se torna demoníaco e
tirânico”.
Posteriormente, também com estes
fundamentos, ao lado de São João Paulo II, ele elabora e propõe uma visão
cristã dos direitos humanos capaz de por em discussão em nível teórico e prático a pretensão totalitária do Estado
marxista e da ideologia ateia sobre a qual se fundava.
Porque, para Ratzinger, o autêntico contraste entre o marxismo e o cristianismo
não se dá, certamente, na atenção preferencial dos cristãos pelos pobres:
“Devemos aprender – uma vez mais, não só a nível teórico, senão na forma de
pensar e agir – que ao lado da presença real de Jesus na Igreja e no
sacramento, existe outra presença real de Jesus nos pequenos, nos pisoteados
deste mundo, nos últimos, nos quais Ele quer ser encontrado por nós”, escreveu
Ratzinger nos anos setenta com uma profundidade teológica e com uma
acessibilidade imediata que são próprias do pastor autêntico. E esse contraste não se dá tampouco, como ele sublinhou em
meados dos anos oitenta, devido à falta no Magistério da Igreja do sentido de
equidade e solidariedade; e, como consequência, “na denúncia do escândalo
das evidentes desigualdades entre ricos e pobres – sejam desigualdades entre
países ricos e países pobres ou entre classes sociais no mesmo território
nacional – que já não é tolerável”.
O
profundo contraste, nota Ratzinger, se dá, pelo contrário (e ainda antes que na pretensão marxista
de colocar o céu na terra, a redenção do homem no “aqui”), na diferença abismal que subsiste na relação com a maneira como a
redenção deve suceder: “A redenção se dá mediante a libertação de qualquer
dependência, ou a única via que leva à libertação é a completa dependência do
amor, dependência que seria a verdadeira liberdade?”.
E assim, com um salto de trinta anos, ele
nos acompanha na compreensão de nosso presente, como atestam o imutável frescor
e a vitalidade de seu pensamento. Hoje em dia, efetivamente e mais do que
nunca, se torna à mesma tentação do rechaço de qualquer dependência de amor que
não seja do amor do homem pelo próprio ego,
pelo “eu e seus desejos”; e, consequentemente, o perigo da colonização das consciências por parte de uma ideologia que
nega a certeza profunda segundo a qual o se humano existe como homem e mulher,
aos quais foi assinalada a tarefa da transmissão da vida; essa ideologia que
chega à produção planificada e racional de seres humanos e que – talvez por
algum fim considerado “bom” – chega a considerar lógico e lícito cancelar o que
já não se considera criado, doado, concebido e gerado, mas feito por nós
mesmos.
Esses aparentes “direitos” humanos, que se
orientam para a autodestruição do homem (e nos demonstra com força e eficácia
Joseph Ratzinger) têm um único denominador comum que consiste em uma única, grande negação: a negação da dependência do
amor, a negação de que o homem é criatura de Deus, feito amorosamente por
Ele à Sua imagem e a quem o homem anela como a corça suspira pelas águas (Sl
41). Quando se nega esta dependência entre criatura e criador, esta relação de
amor, se renuncia no fundo à verdadeira grandeza do homem, ao bastião de usa
liberdade e de sua dignidade.
Assim,
a defesa do homem e do humano contra as reduções ideológicas do poder passar na
atualidade por estabelecer na obediência do homem a Deus um limite da
obediência ao Estado.
Aceitar este desafio, na verdadeira mudança de época que estamos vivendo,
significa defender a família. No mais, já São João Paulo II havia compreendido
muito bem o alcance da questão: chamado com razão “o Papa da família”, não por
acaso sublinhava que “o porvir da humanidade passa através da família” (Familiaris consortio, 86). E, nessa
linha, também eu insisti que “o bem da família é decisivo para o futuro do
mundo e da Igreja” (Amoris laetitia,
31).
Por isso, estou particularmente feliz de poder introduzir este segundo volume
dos textos escolhidos de Joseph Ratzinger sobre o tema fé e política. Que
possa, junto com sua poderosa Opera omnia, ajudar-nos não só a
compreender o nosso presente e a encontrar uma sólida orientação para o futuro,
mas também ser verdadeira fonte de inspiração para uma ação política que,
colocando a família, a solidariedade e a igualdade no centro de sua atenção e
seus programas, olhe para o futuro verdadeiramente com clarividência.
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